Quando inventaram o controle remoto para TV seus criadores imaginaram estar apenas oferecendo aos usuários uma ferramenta a mais de comodidade e praticidade. Não podiam imaginar o que esta singela invenção representaria para os homens!
Ao sentar diante de uma TV e empunhar o CR um homem não está simplesmente exercendo o direito tecnológico de mudar de canal à vontade. Ele está, na verdade, resgatando metaforicamente algo há muito perdido nas brumas do tempo: PODER!
O CR é a metáfora do poder perdido ao longo da evolução e da civilização. Nas mãos de uma mulher o CR cumpre sua finalidade de origem, ou seja, facilitar a vida eliminando o incomodo de ter que levantar-se para trocar de canal. Simples assim.
Já o homem, ao apontar o CR para a tela e zapear, está, de alguma forma, fazendo uma viagem de inspeção aos seus domínios. Ele está conferindo como vão indo as coisas "no império" sem a sua presença
-Os jogadores do seu time estão massacrando, como tem que ser, o odioso adversário?
-O Jerry ludibriou mais uma vez o Tom?
-A “lula de Humbolt foi finalmente filmada em seus domínios abissais?
-Doris Day casou novamente com Rock Hudson no final?
-Capitão Kirk conseguiu livrar a Enterprise da emboscada dos Borgs?
-Os jogadores do seu time já consolidaram definitivamente sua óbvia e indiscutível supremacia?
-O bip-bip já levou o coiote a esborrachar-se mais uma vez contra o falso túnel?
-O temível tubarão branco foi repelido pelo bastão eletromagnético?
-Bogart beijou Ingrid no aeroporto?
-Spock conseguiu ser teletransportado de volta para a nave?
Claro, não há necessidade de mais de 30 ou 40 segundos para cada “conferência”.
E tudo isso dali mesmo, do sofá, sem ter que se afastar do copo de cerveja. É o exercício mais absoluto e indiscutível do PODER.
E tem mais.
O CR lhe devolve um direito há muito perdido nos desvãos da civilização. O direito de conquistar, subjugar, decidir quem vai quem fica, quem triunfa quem sucumbe. Ao “abandonar” um canal em plena transmissão de um programa o homem está, também metaforicamente, exercendo seu direito de legítimo conquistador, de condenar todos aqueles responsáveis pela elaboração do programa (atores, apresentadores, técnicos, patrocinadores) ao mais terrível dos fins: deixar de existir!
Qual um grande Alexandre ou um todo-poderoso Napoleão, ele, com um leve toque dos dedos (nem Alexandre nem Napoleão tinham tamanho poder) decide pela eliminação sumária de verdadeiros “exércitos”.
Ainda mais poderoso do que os grandes conquistadores da história, ele tem o poder, inimaginável para aqueles, de “ressuscitar”, a qualquer momento, os exércitos exterminados!
Definitivamente o CR permitiu ao homem resgatar sua essência dominadora. Já viram DOIS homens juntos diante de uma TV e apenas um CR? Não, não é possível, a não ser que um deles tenha sido derrotado em uma “batalha” prévia e tenha aceitado seu lugar de subjugado, de “membro do grupo”. Líder apenas um!
Com um CR na mão o homem volta a ocupar seu lugar de dominador da espécie, líder indiscutível, chefe!
Somente uma desmesurada, invencível, intransponível força neste mundo é capaz de vencer um homem de posse de um Controle Remoto. A ESPOSA!
- Pópará com a palhaçada e vai largando o controle que vai começar a novela!
Texto de IVO FONTAN
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